sábado, 24 de julho de 2010

Discurso de abertura das comemorações do Instituto Orbis ao Ano Internacional da Biodiversidade - 2010

Como primeira postagem nesta seção, apresento o discurso que foi lido na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, no dia 27 de Maio de 2010, quando foi feita a abertura das comemorações do Instituto Orbis ao Ano Internacional da Biodiversidade - 2010.
Boa leitura!

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É com imensa felicidade e gratidão que trazemos à tona o assunto “biodiversidade”, AQUI na Casa do Povo, nesta que é noite da bela Lua Cheia lá fora.

“Biodiversidade é vida. Biodiversidade é a nossa vida.” Esse é o lema mundial da campanha deste que é o Ano Internacional da Biodiversidade.

No ano de 2006, a Assembléia Geral das Nações Unidas declarou o ano de 2010 como o Ano Internacional da Biodiversidade, tendo por coordenação mundial a UNEP, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, através da Convenção da Diversidade Biológica, a qual o Brasil é país signatário juntamente com outros 187 países.

Já neste ano de 2010, o Instituto Orbis de Proteção e Conservação da Natureza, a primeira Organização da Sociedade Civil de Interesse Público Ambiental de Caxias do Sul, formalizou parceria com a Convenção da Diversidade Biológica, que tem sede em Montreal, no Canadá, para apresentação, educação, promoção, divulgação, proteção e conservação da nossa biodiversidade local. Enfim, fazer verdadeira apologia à nossa biodiversidade da Serra Gaúcha, que é tão pouco conhecida por todos, inclusive e muitas vezes, desconhecida da própria ciência, no seu todo. Diversas ações estão sendo construídas e programadas pelo Instituto Orbis para acontecer ao longo de todo este ano como forma de celebrar a biodiversidade.

Afinal: o que é biodiversidade?

O conceito formal de biodiversidade ou diversidade biológica foi usado pela primeira vez pelo biólogo pesquisador americano Edward Osborne Wilson no ano de 1988, e tem significado amplo, como deveria ser para abarcar a incrível quantidade de formas de vida diferentes que habitam o nosso planeta junto conosco. Em síntese, significa a quantidade de espécies diferentes que existe; a quantidade de ecossistemas diferentes que existe; a quantidade de genes diferentes que existe, genes esses que constituem cada um dos seres vivos no nosso planeta, inclusive nós humanos. O significado vai além, também a quantidade de diferentes expressões culturais existentes, inclusive de todas as culturas humanas. Significa a diversidade da vida, abrangendo todas as suas expressões.

A Convenção da Diversidade Biológica elenca em seu preâmbulo diversas razões para a proteção da biodiversidade. E o Brasil se compromissou com essas razões.

Uma delas:

“Conscientes do valor intrínseco da diversidade biológica e dos valores ecológico, genético, social, econômico, científico, educacional, cultural, recreativo e estético da diversidade biológica e de seus componentes.” São muitos valores, na maioria ligados à nossa própria existência. Ou seja, a biodiversidade é imprescindível para a continuidade de toda e qualquer vida na Terra e, essencialmente, a nossa vida.

Outra razão:

“Conscientes, também, da importância da diversidade biológica para a evolução e para a manutenção dos sistemas necessários à vida da biosfera.” A manutenção da nossa própria vida com produção de alimento, com água disponível. Isso só ocorrerá se deixarmos a Natureza fazer seus serviços em paz, sem interferência.

Ainda, mais uma:

“Preocupados com a sensível redução da diversidade biológica causada por determinadas atividades humanas.” Esse é o principal ponto da perda da biodiversidade e também é refletido no consumo nosso de cada dia, pois somos nós que alimentamos a existência de atividades ambientalmente incorretas quando adquirimos bens de origem duvidosa ou, pior ainda, sabendo da procedência desastrosa.

E, dentre outros parágrafos da convenção, destaco mais um:

“Conscientes da falta geral de informação e de conhecimento sobre a diversidade biológica e da necessidade urgente de desenvolver capacitação científica, técnica e institucional que proporcione o conhecimento fundamental necessário ao planejamento e implementação de medidas adequadas.” Aqui estão incluídos os modelos de desenvolvimento urbano, de legislação, de fiscalização, a partir do conhecimento científico, harmonizando a convivência com o ambiente natural.

É assim que a Convenção da Diversidade Biológica inicia seu texto, redigido no ano de 1992, quando da Eco-92, no Rio de Janeiro. Se alguma coisa mudou depois da assinatura dessa convenção, foi inexpressiva. Continuamos rumando em direção a uma muralha.

Vivenciamos uma taxa de extinção altíssima, comparável, senão superior, a de extinções em massa ocorridas outrora no planeta. Previsões científicas indicam que estamos vivendo hoje o maior processo de extinção jamais ocorrido no nosso planeta, causado por nós seres humanos.

Se sabemos de tudo isso, por que continuamos a perder nossa biodiversidade?

Bem, na história de todas as civilizações, jamais, qualquer uma delas sequer, aprendeu com os erros de outra. Sempre teve que passar pelo mesmo processo de aprendizado: sentir na pele, vivenciar a perda, e em todas as situações, com pungente sofrimento. São diversas histórias de falência urbana devido ao mau uso dos elementos da Natureza. Hoje em dia, em nome da manutenção do status quo, vendemos nossas almas, não ao diabo, mas ao dinheiro que nos carregue. Pervertemos, em benefícios próprios, para poucos, ou pouquíssimos, quaisquer noções de boa vizinhança. A sociedade não lida bem com o seu tempo: não tem tempo a perder e nem para pensar de outra forma. Ou seja, não olhamos o passado, não aprendemos como fazer, nos aventuramos e damos com os burros n’água. E isso é recorrente!

E por que, então, fazemos tudo isso? Por que somos tão nocivos à vida? A nós mesmos?

Porque somos egoístas. Fazemos isso para mantermos, novamente, o status quo. Para mantermos nossas posições sociais, sem perdas tanto para nós como para os nossos, em detrimento dos outros, humanos ou não. Não pensamos em comunidade, em sociedade, não pensamos em conjunto.

O ser humano já viveu o momento do “ser”, em tempos remotos, dos primórdios da vida humana na Terra. Tínhamos que ser ótimos para continuarmos vivos, capazes de encontrar alimento, de sobreviver aos perigos impostos pela natureza. Nossos antepassados mais antigos se viraram, se desdobraram. Os que somos hoje, o que podemos fazer usando nossos cérebros, devemos aos sobreviventes daquelas épocas passadas, quando apenas aqueles que conseguiam sobreviver, continuavam a permanência da humanidade no planeta. Foram os vencedores, esses que permaneceram vivos e tiveram seus filhos. Essa é a teoria de Darwin: a seleção natural.

Muito tempo depois disso, milênios, com o aumento da complexidade da nossa sociedade e da própria população, passamos a viver o momento do “ter”. Naquela época, estava estabelecida a nobreza. E, posteriormente, sem ter qualquer acesso à qualquer nobre posição, a rica burguesia acabou salvando o Estado. Não eram mais os nobres que governavam e sim os que tinham acumulado bens, poder. E isso progrediu. E isso se perpetuou. Até hoje.

Mais atualmente, agora, agora, nosso mundo rachou de vez: vivemos o “aparentar”. Apresentamos currículos que podem nada querer dizer, nos vestimos para mostrar coisas que não somos, para conseguirmos inserções sociais. Precisamos aparecer e ser aquilo que querem que sejamos, senão, diversas opções sociais sequer são reveladas. Falamos sobre quaisquer assuntos, mesmo não tendo a propriedade necessária. Nos envolvemos em quaisquer questões, com a impotência do desinteressado, apenas para constar e parecer que o trabalho foi feito. Hoje, os problemas nunca são nossos: são de qualquer outra pessoa ou de algum evento muito dificultoso que ocorreu, que acaba por impossibilitar o bom resultado. Não olhamos mais o nosso próprio umbigo. Como diz o ditado popular: “vemos um gravetinho no olho do outro, mas não vemos um tronco dentro do nosso próprio olho.” Perdemos a autocrítica. Perdemos o respeito.

Mas o que isso tem a ver com biodiversidade?

Estamos perdendo valores fundamentais de convivência harmoniosa tanto com os entes da natureza como conosco mesmo, que também somos parte da natureza. Valores da família, valores sociais, valores fundamentais para a continuidade do todo em que estamos inseridos. Pessoas não inteiras vivem em mundos próprios, aos pedaços. Desgraçadamente não criativas e tediosas. E ficam impotentes para lutar por qualquer coisa.

Pois bem: este somos nós. Somos o que somos: seres humanos, modificadores do ambiente. Isso faz parte da nossa natureza. Não temos as garras dos felinos, nem a mira das corujas, nem a agilidade dos bugios. Nós temos o cérebro, super desenvolvido, que nos compensa qualquer uma dessas ou de outras ferramentas. Somos a única espécie que está presente em todos os ambientes do planeta Terra, e até fora dele. E a única que pode fazer isso por si.

Acredito que tenha exposto a principal causa da perda da biodiversidade: nós mesmos. A começar pelas atitudes egoístas, gananciosas, superficiais, impensadas e, principalmente, imediatistas.

A reflexão é necessária a todo o momento. A autocrítica é fundamental. Puxar o freio de mão também. Precisamos nos dar tempo e entender o que está acontecendo. Precisamos fazer parte das coisas, integrar-nos à sociedade e exercer nosso papel cidadão.

Estamos repetindo papéis, sem repensar certos parâmetros atualmente mais condizentes com este momento, com o conhecimento que já existe.

Falemos qual o modelo de cidades que nós temos ainda hoje. É o modelo Romano, do tempo do Império Romano, de mais de 2000 anos atrás. Um tempo em que nossas exigências ambientais eram infinitamente menores que atualmente e nosso planeta nos suportava. Nossas vias públicas, nossa captação e distribuição de água, nossa burocracia, nossas intenções de manter poder e status social: tudo daquele tempo. Hoje, no terceiro milênio, na era moderna, da tecnologia, muitas soluções estão disponíveis tanto às cidades quanto ao próprio cidadão. Não devemos mais aceitar esse modelo antigo que só nos traz mais prejuízos tanto a curto, como a médio, longo e longuíssimo prazo, pois ele exaure o sistema. Efeitos esses que ocorrem em cascata.

Precisamos, então, da intencionalidade de fazer a coisa bem feita, com resultados bons e feita de uma vez por todas, o que acarreta em menos gastos tanto financeiros, como sociais e ambientais.

O uso da energia elétrica, tão necessária ao desenvolvimento de qualquer economia ou país, é um bom exemplo.

A matriz energética no Brasil é a hidrelétrica. A energia hidrelétrica não é mais tida, atualmente, como energia limpa. Já se sabe, através de estudos científicos, que a construção de barragens é muito destrutiva para a vida anteriormente estabelecida naquele ecossistema onde está instalada. É um genocídio. É a completa mudança de um ambiente e as espécies que lá estavam não conseguem se adaptar ao novo ambiente, morrendo. E, em data futura, a natureza retorna nossos erros para nós mesmos, exigindo que paguemos o preço. Nesse momento futuro, já perdemos a conexão de nossos erros.

A necessidade de produção de energia elétrica, na verdade, é gerada por nós mesmos. Quer seja através do próprio gasto da eletricidade ou através do consumo de bens. Acabamos simplesmente atendendo aos apelos clamorosos da mídia que nos faz ter a necessidade de aquisição de tanto bens, muitas vezes inúteis, que entulham nossas casas. O consumo consciente é proteção ambiental! O consumo traz embutido em si, a ocupação, extração, modificação de bens da natureza, causando impactos que devem ser mensurados e controlados. Precisamos querer mudar esses parâmetros.

Afinal, tudo o que temos e usamos vem da natureza. Tecidos, metais, combustíveis, alimentos, bebidas, pedras, tintas, enfim. De uma forma ou de outra, tudo o que usamos tem início em extração da natureza.

Somos a roda motriz do sistema. Cada um de nós. O cidadão detém o poder! O cidadão é consumidor. O cidadão decide rumos. O cidadão é fiscalizador. O cidadão deve denunciar o que estiver errado. Devemos pensar vários palmos adiante do nosso próprio nariz.

Devemos mudar nossas atitudes, para o bem de todos. Isso é exercer cidadania.

Ser cidadão é estar atento, é cuidar, é zelar. Cuide-se e cuide dos outros.

E, por fim, repense a sua forma de viver, as suas atitudes. Hoje é um bom momento para recomeçar. Sorria! Não por estar sendo filmado. Sorria por puro prazer. Olhe ao seu redor e comece a notar aquilo que nunca viu. Redescubra-se. Abra seus olhos e desate seus braços. Há muito que fazer. Cabe a nós mesmos esse controle, como cidadãos. Esse trabalho também é nosso.

E mais um coisa: POR FAVOR, SE FOR O ÚLTIMO, APAGUE A LUZ AO SAIR!

Muito obrigado.

Um comentário:

  1. Massa! Eu já tinha lido! hehehe E cadê as fotos desse dia?!?!?!?! ;)

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