domingo, 1 de abril de 2012

A fala do Instituto Orbis na Hora do Planeta de Caxias

Colocamos aqui os artigos lidos durante a Hora do Planeta que ocorreu ontem (31 de Março) em Caxias do Sul, organizada pelo Instituto Orbis.

Quase 400 pessoas participaram, muitos com velas na mão, apesar do vento gelado que muitas vezes insistia em apaga-las, formaram a egrégora necessária para uma nova Caxias, mais desenvolvida também ambientalmente, rumo à proteção climática da nossa cidade e região.
Saliento que a participação de uma cidade oficialmente, como muncípio participante, cabe aos governos municipais de cada cidade entrando em contato diretamente com o WWF Brasil. Pelo terceiro ano consecutivo o Instituto Orbis organizou e realizou a Hora do Planeta Caxias do Sul, livre e gratuitamente, à sociedade regional.

A Lua e as estrelas também estiveram presentes numa noite de céu límpido e belíssimo.

Foram três momentos em que o Instituto Orbis falou para o público durante a Hora do Planeta de Caxias. O último artigo foi inspirado em São Francisco de Assis, o padroeiro da Ecologia e da Biologia.
Eis os textos:


Começamos a Hora do Planeta em Caxias do Sul.
Esta é uma noite muito especial. Estamos todos aqui reunidos pela proteção climática no nosso planeta. Consequentemente pela proteção de todas as formas de vida conhecidas ou não neste planeta, incluindo a nós mesmos, humanos.
A partir de agora relaxe. Deixe-se levar pelo conjunto de todos nós, que queremos o melhor para o planeta como um todo. A partir de agora é a hora de deixar passar pela sua mente, pelo seu corpo sentimentos bons, de maneira relaxada para que fluam melhor. Deixe-se ser parte desta egrégora da boa vontade pelo nosso futuro que formamos agora. A egrégora é a união das boas-vontades de todos que participam de uma ação. É puro bem querer. É poder que a ciência não explica. É este planeta agindo de maneira que não entendemos. Mas você pode sentir isso. Encante-se. Flutue nessa penumbra.
A proteção climática cabe a nós, cidadãos. O que pretendemos para o futuro passa por nossas mãos, por nossas intenções e nossas ações.
O cidadão é a roda motriz da sociedade. É o trabalhador, é o consumidor e o votante. São as pessoas que fazem com que mais e mais coisas sejam produzidas no nosso mundo. Tanto coisas úteis como coisas absolutamente inúteis.
Todos os artefatos, úteis ou não, são produzidos com materiais retirados da Natureza deste planeta.
O uso racional e comedido desses recursos, todos(!), precisa ser reavaliado por toda a sociedade. O fabricante quer vender seu produto. É a lei do mercado. Ele produz e gera uma demanda. A publicidade cria necessidades nas pessoas, que têm dificuldades em encontrar a sua própria felicidade e acaba por cair nas potencialmente perversas garras da propaganda.
Somos humanos e ficamos felizes, pela nossa própria Natureza, no convívio com outros humanos, os nossos parentes, nossos amigos, nossos colegas, vizinhos. É somente essa proximidade real de pessoas com pessoas reais, e não, jamais, virtuais é que pode trazer felicidade verdadeira e duradoura. Requeira menos. Exija-se menos. Viva mais tranquilamente. Olhe nos olhos das pessoas quando fala com elas. Isso é respeito. Respeito à vida. Isso é humano.
Cabe a cada um de nós construir a sociedade que queremos viver. E sofrer as consequências, boas ou não, das nossas opções sociais. A Natureza é reta quando se fala em consequências. O perdão é apenas humano. Não é de nenhum outro ser vivo que não o ser humano.
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A água que outras pessoas desperdiçam eu pago também. A luz que outras pessoas desperdiçam eu pago também. Cabe a nós, como cidadãos, fazer a boa conversa com quem desperdiça bens tão necessários à vida de todos.
Cada um de nós não paga apenas a água e a luz que consome. A partir do momento em que há escassez de água ou luz, há a necessidade de construção de novo empreendimento que possa fornecer água ou que produz a luz elétrica para toda sociedade. Esse empreendimento tem um custo muito alto. Tanto ambiental quanto social, em perda do ambiente natural e em impostos para toda a sociedade. Quem paga a construção desses enormes empreendimentos para a vida em sociedade é o cidadão. Poupar água e luz reflete imediatamente no bolso da unidade familiar que consome. Poupar água e luz reflete, em longo prazo, em manter o clima mais estável pela não destruição dos locais onde a Natureza ainda impera.
Quem controla o clima é a Natureza. O ser humano apenas pode desestabiliza-lo. A Natureza dá respostas às agressões sofridas mais imediatamente pelo clima.
Aqui onde estamos um dia foi uma velha floresta da Mata de Araucária. Naquele tempo não havia Caxias do Sul e nem o seu poderio econômico. Mas havia um clima muito estável e previsível. Há alguns anos, por sua própria escolha, Caxias do Sul optou pelo desenvolvimento e por ganhos financeiros inigualáveis para uma cidade deste porte no nosso País. Quem perdeu terreno, literalmente, foi a Natureza. A cidade optou por destituir as florestas, sem repor nada. Apenas retirando. Apenas ganhando.
Hoje, temos uma Caxias do Sul um clima até certo ponto desconhecido. Estamos perdendo cada vez mais os parâmetros conhecidos e esperados do nosso clima. Temos estiagens mais frequentes, temos tempestades mais violentas. O mesmo processo de desenvolvimento ocorreu em toda a nossa região. Foi a nossa escolha, como sociedade, no passado.
E a partir de agora, o que escolheremos? Para onde estamos nos encaminhando?
Cabe a nós exigir a proteção climática de Caxias do Sul e da nossa região. Precisamos urgentemente recompor o ambiente florestal em zonas escolhidas para que isso possa ocorrer. Precisamos de um cinturão de proteção climática para a nossa cidade e região. Precisamos recompor partes da nossa floresta original, que regula o clima da nossa região.
Questione seus candidatos às próximas eleições sobre segurança climática e futuro sustentável e seguro para Caxias do Sul. Qualquer um deles. Todos eles. Avalie. As cidades podem e devem se desenvolver mantendo sua Natureza ao redor. Otimizando o uso dos recursos retirados da Natureza e depositando os dejetos em locais próprios e seguros.
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Eu sou a chave
Noite alta de Lua crescendo e céu limpo e estrelado. Há uma brisa suave e tranquila. Estou fora da cidade. Longe dela. Vou subir o morro mais alto desta propriedade, apenas com a luz da Lua e das estrelas. Estou só, mas minha lanterna vem comigo.
Aqui no topo posso ver todo o horizonte e todo o céu! É lindo!!
Acendo a minha lanterna, uma bem antiga, de um tempo que não conheço. Vai uma vela dentro dela. É muito bonita.
Por que a maioria das pessoas não se contenta com tanto? Meu planeta é espetacular! Vejo uma, duas, três estrelas cadentes riscando o céu. Que sorte!
Sinto a brisa gelada que vem do Sul, mas estou bem como meu grosso casaco de lã.
Aliás, estou muito confortável. Me sinto muito feliz. Gostaria de compartilhar essas sensações.
O vento balança as árvores. Há muitas delas logo aqui perto. As folhas reverberam um som muito relaxante. Me sinto como se fosse uma dessas árvores. Que estranho.
Mas me sinto ótimo.
Elas nos oferecem tantas coisas boas, que fiquei sabendo. Não só a sombra, não só os frutos. Elas mantêm o meu mundo como eu gosto dele. Ah! Obrigado, árvores! Sempre quis agradecer a vocês mas nunca tive coragem de fazer isso na presença de meus amigos ou mesmo na cidade. Hoje me sinto livre como o vento que passa pelo meu rosto nessa penumbra.
Obrigado pelo ar que respiro. Obrigado pela água que bebo. Obrigado por manter o chão em que piso. Obrigado por tudo o que vocês são: seres vivos que fazem tudo isso que eu podemos aproveitar. Gratuitamente.
Eu levanto e vou em direção a uma araucária próxima. Ela é imensa... Quantos anos será que ela tem? Muito velha. Já deve ter passado tanta coisa... Presenciado tanta coisa...
Toco no tronco da árvore. Sinto uma sensação de compartilhamento, de união. Oh, minha araucária, amiga, sou teu irmão neste planeta. Tu és tão forte, tão vigorosa, tão poderosa. Me orgulho de ti.
Sou o teu irmão que pode se locomover. Que pode fazer algo por ti na minha cidade. Afinal, tu não falas a língua dos humanos..., mas é puro sentimento. Araucária, eu te protejo.
Ao lado, há um belo e também enorme cedro. Outra árvore magnífica. Também nativa daqui. Toco no tronco do cedro também, para sentir seu poder.
Oh, meu irmão cedro. Como eu gosto de ti... vivo! Quem dera mais pessoas se permitissem sentir essa suave tormenta de sensações. Como é incrível me dar tempo ao tocar em uma árvore! Tocar em uma árvore sem tempo. Pela eternidade de alguns minutos.
Olho um pouco mais adiante e sinto que as outras árvores clamam pelo meu toque. Mas eu sou uma pessoa comum. Não tenho nada especial.
Hmmm... .talvez isso aconteça com qualquer pessoa que se permita a isso. Talvez eu apenas tenha retornado no tempo. Para um tempo em que a vida não era tão distante como hoje. Para um tempo em que nós tocávamos mais, inclusive nas outras pessoas.
Ouço um som e vejo um graxaim por perto. Mas ele está calmo. Ele não está com medo. Deve ser porque eu estou tranquilo. Afinal, agora eu sou uma árvore também.
Meu irmão graxaim, tudo bem! Como é bom te ter aqui junto conosco.
Ele se deitou. Parece até que entende o que eu falo. Seu semblante é pacato. Eu estou pacato e posso aproveitar esse momento em toda a sua plenitude.
Como é bom estar vivo! E compartilhar a vida com esses belíssimos seres!
Nossa, e se minha família fosse tirada de mim? Como eu iria viver?
Seria como se arrancassem uma parte do meu próprio corpo. Que dor!
Isso não pode acontecer... por favor!
Clamo aos céus, às estrelas, que jamais tirem a minha Natureza de mim. Que façam os homens saberem que eles próprios são árvores e graxains. Que somos todos cada parte deste impressionante planeta.
Que isso seja uma prece e que, emanado daqui do topo deste morro, chegue nas cidades mais próximas agora que todos dormem. Que eles sintam por seus sonhos que são aqueles que podem agir pela permanência de tudo o que eu gosto e preciso.
Estou repleto de alegria. Eu sou pura alegria. Eu sou o bem e é isso que eu decido fazer.
Vocês, araucárias, cedros, graxains e todos os outros, que têm a mesma gota de vida que eu tive quando fui concebido, são tão importantes quanto eu. Não sou mais, nem menos. Sou árvore, sou graxaim, sou ave, sou água, terra e ar. Eu sou este planeta.
Nossa! Meu deu uma vontade imensa de abraçar meus familiares humanos, agora. Senti muita saudade deles! Parece que faz muito tempo que não os vejo.
Não me importa mais o que digam. Eu amo a todos. Eu posso amar. Eu cuidarei de todos como cuido do meu bem mais precioso: a minha própria vida.
Araucária! Cedro! Graxaim! E todos os outros. Eu amo vocês!

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